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ANÁLISE DE ESTUDO - TRABALHO REALIZADO POR PSICÓLOGOS NOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL - CAPS

Foto do escritor: Everton AndradeEverton Andrade

ABAIXO SEGUEM REFERÊNCIAS DA INTERNET DISPONÍVEIS AO PÚBLICO




ANÁLISE DE ESTUDO



TÍTULO:

A DOR E A DELÍCIA DO TRABALHO REALIZADO POR PSICÓLOGOS NOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL - CAPS


AUTOR:

ALINE BRANDÃO DE SIQUEIRA, DR. ANÍSIO JOSÉ DA SILVA ARAÚJO - UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB


TEXTO ABAIXO ALTERADO COM SEPARAÇÕES E OBSERVAÇÕES:



OBJETIVO DO ESTUDO

Analisar a relação trabalho e saúde (mental) dos psicólogos inseridos nos Centros de Atenção Psicossocial em João Pessoa - PB é o objetivo principal desse estudo. Os CAPS são a principal estratégia da 'reforma psiquiátrica', um movimento que busca dar à problemática da loucura uma outra resposta social a partir de uma luta pelo resgate da cidadania e reinserção das pessoas acometidas de sofrimento psíquico na sociedade.


HISTÓRIA DA PSICOLOGIA

O Brasil recebeu a influência dos movimentos que se desenvolveram na Europa e nos Estados Unidos, a exemplo das comunidades terapêuticas (Inglaterra), a psicoterapia institucional (França), a psiquiatria de setor (França), a psiquiatria preventiva (EUA), além da antipsiquiatria e das experiências surgidas a partir de Franco Basaglia, que posteriormente, viria denominar-se movimento de desinstitucionalização (Itália). Os movimentos psiquiátricos ocorridos na Europa e nos Estados Unidos repercutiram na assistência psiquiátrica brasileira. Aos poucos surgiram experiências de comunidades terapêuticas, centros de saúde, hospitais-dia e outras modalidades de assistência às pessoas com problemas mentais.


OBJETIVO DO CAPS

Dessa nova roupagem da saúde mental no Brasil surgem os Centros de Atenção Psicossocial - CAPS, com o objetivo de atender pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecer-lhes atendimento médico e psicológico (Ministério da Saúde, 2004).


DESCRIÇÃO INICIAL DO TRABALHO DO PSICÓLOGO NO CAPS

Os profissionais que trabalham nos CAPS integram uma equipe multiprofissional, composta por profissionais com nível de escolaridade médio ou superior. O quadro de um CAPS compõe-se de: enfermeiros, médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, pedagogos, professores de educação física, técnicos e/ou auxiliares de enfermagem, técnicos administrativos, educadores e artesãos. Com o intuito de abrir uma discussão em torno da relação saúde e trabalho dos psicólogos inseridos nos CAPS, e não de esgotá-la, uma vez que temos consciência da complexidade existente nessa díade, buscamos compreender como é o cotidiano de trabalho de um psicólogo inserido num CAPS, quais as pressões as quais esses profissionais são submetidos no seu dia-dia, como se dá a organização do trabalho num CAPS, as divisões de tarefas, as relações desses psicólogos com os demais colegas de trabalho, como também analisar as condições de trabalho que são disponibilizadas para que o trabalho de um psicólogo aconteça.



FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA / APLICAÇÃO DA ERGONOMIA

Para isso, respaldamos-nos em duas correntes teóricas que nos ajudaram a compreender essa díade trabalho/saúde: a Ergonomia Situada e a Psicodinâmica do Trabalho. A Ergonomia da Atividade trouxe uma contribuição fundamental para pensar a relação do homem com o seu trabalho, ao propor que a análise do trabalho seja feita na perspectiva de compreendê-lo para transformá-lo (Guérin et al, 2001), tendo por referência as situações de trabalho. Nessa perspectiva da Ergonomia, a produção de conhecimentos se dá através da análise de situações reais de trabalho, buscando estar em contato constante e sistemático com a realidade social. As condições de vida e trabalho, as relações sociais no trabalho, a organização formal e informal dos trabalhadores passam a ser relevantes para a Ergonomia, que não se limita a estudar apenas a tarefa, mas a maneira como os objetivos previstos são alcançados.



CONCEITO DE TRABALHO

O conceito de situação de trabalho não se refere apenas à tarefa e ao seu ambiente físico, mas também, à dimensão histórica em que a atividade se processa. Guérin et al. ressaltam que a tarefa é um resultado antecipado, fixado dentro de condições determinadas, o que corresponde ao trabalho prescrito, enquanto a atividade refere-se ao trabalho que foi de fato efetivado, ou seja, o trabalho real.



PSICODINÂMICA DO TRABALHO / PSICOPATOLOGIA DO TRABALHO

Aqui, deve-se destacar a contribuição de outra corrente teórica, a Psicodinâmica do Trabalho, que discute a relação trabalho/saúde enfatizando os processos psíquicos mobilizados pela confrontação do sujeito com o trabalho. Essa vertente construiu os seus pressupostos dando ênfase aos coletivos de trabalho, e vem sendo desenvolvida desde o final dos anos 70, a partir dos pressupostos da Psicopatologia do Trabalho, cujos principais expoentes são Christophe Dejours (1993, 1994) e Damien Cru (1987). A PDT, a partir da análise do sofrimento e das defesas acionadas para minimizá-lo, procura entender o destino desse sofrimento, ou seja, adoecimento, descompensação, ou ainda, criatividade, inventividade e prazer no trabalho. Segundo Dejours & Abdoucheli (1994), entre o trabalho e o sofrimento interpõe-se um indivíduo que compreende sua situação, que é capaz de agir e de se defender e suas reações de defesa são singularizadas em função de sua história e da personalidade de cada um.


PARTICIPANTES DO ESTUDO

Os participantes desse estudo são os dez psicólogos que atuam nos dois CAPS de João Pessoa-PB. O CAPS AD (Jovem Cidadão) que atende uma população de alcoolistas e usuários de drogas ilícitas e o CAPS II (Dr. Gutemberg Botelho) que assiste pessoas com problemas mentais.


ESTRATÉGIAS UTILIZADAS

Para apreender as dimensões subjetivas no trabalho dos psicólogos nos CAPS, utilizamos como estratégia metodológica a articulação de entrevistas semi-estruturadas com observações livres e grupos de discussão. As entrevistas individuais e os grupos de discussão foram transcritos e submetidos à análise de conteúdo proposta por Bardin (1977), porém, com as reformulações sugeridas por autores como Minayo (1993) e Laville e Dionne (1999). Utilizamo-nos da análise temática, e as categorias analíticas se desdobram a partir dos referenciais teóricos que respaldam esse estudo.


ANÁLISES E RESULTADOS

A partir dos dados processados através da análise de conteúdo temática, pudemos observar que 90% das equipes que atuam nos CAPS são compostas por funcionários públicos - estaduais ou municipais - cedidos para trabalharem nessas instituições. A inserção profissional desses psicólogos não se deu por via de concurso, uma vez que há mais de vinte anos não ocorre concurso para essa categoria. Estes são em sua maioria, provenientes de outros órgãos ligados ao município ou o estado, como secretarias, ambulatórios, hospitais (inclusive o psiquiátrico), cedidos para trabalharem nos CAPS.


CONDIÇÕES DE TRABALHO / SENTIMENTOS

Quanto às condições de trabalho, constatamos uma realidade semelhante em ambas as unidades: espaço físico inadequado, insuficiência de recursos materiais, insatisfação salarial e uma conseqüente dupla ou tripla (no caso das mulheres) jornada de trabalho, no sentido de complementar a renda familiar. Esses aspectos, vividos como constrangimentos, foram sinalizados pelos psicólogos como desestruturantes e associados a sentimentos de angústia, desgaste, tristeza, frustração, estresse. Tais condições mobilizam nos psicólogos o investimento de sua inteligência prática ou astuciosa (Dejours, 1993) no sentido de gerir essas 'insuficiências' organizacionais.


JORNADA DE TRABALHO / RETORNO FINANCEIRO

A atividade de um psicólogo num CAPS não exige dedicação exclusiva, possibilitando que este acumule mais de um emprego/atividade profissional. Pudemos constatar que todos os entrevistados possuem dupla e/ou tripla jornada de trabalho, atuando em mais de um tipo de CAPS (cada instituição exige uma jornada de vinte horas semanais), em consultórios particulares, na Secretaria de Saúde, em Hospitais, de forma que complemente a renda dos mesmos, pois segundo esses profissionais o salário pago ao psicólogo é insuficiente para a garantia de uma vida estável, pois não atende às necessidades básicas, como alimentação, moradia, transporte, educação dos filhos..



TRABALHO COLETIVO / PRAZER NO TRABALHO

No tocante à organização de trabalho, encontramos, também, uma realidade comum nos dois CAPS. Observamos a existência de um trabalho coletivo realizado em bases multiprofissionais, em que a autonomia se faz presente, ainda que balizada por diretrizes do Ministério da Saúde. O reconhecimento foi evidenciado pelos psicólogos, principalmente quando oriundo da clientela assistida, o que foi assinalado como promotor do prazer e sentido no trabalho. Outros aspectos apontados como relacionados à vivência de prazer foram: o progresso no tratamento dos usuários e a possibilidade da autonomia no trabalho, entre outros.



RECAÍDAS DOS CLIENTES

Por outro lado, as recaídas no processo de tratamento são apontadas pelos psicólogos como uma fonte de sofrimento. Tais recaídas foram apontadas, sobretudo, pelos psicólogos que atuam no CAPS AD, de usuários de álcool e drogas ilícitas. Segundo esses profissionais, a maior fonte de sofrimento nessa atividade é ver as recaídas dos clientes que vinham até então respondendo bem ao processo.



EQUIPE MULTIPROFISSIONAL

A organização do trabalho nos CAPS investigados revelou uma dinâmica de funcionamento onde opera um trabalho coletivo, exercido de forma multiprofissional, e onde não há concentração de poder na figura do médico, como ocorria no modelo hospitalocêntrico. As decisões são tomadas em equipe, durante as reuniões semanais - reuniões técnicas - com a presença de todo o efetivo do serviço.



PRIVILÉGIO E CONTRIBUIÇÃO PARA A SOCIEDADE

Outra fonte de prazer que os psicólogos relacionam ao seu trabalho é o reconhecimento da sua profissão, do seu fazer, que se dá principalmente pelos pacientes dos CAPS, mas também pelos colegas da profissão e pela chefia. Mesmo com a presença dessas dificuldades, os psicólogos se sentem privilegiados em trabalhar nessas instituições. Para nós ficou bem evidenciado que o que os mobiliza a estarem nos CAPS é o prazer oriundo das relações estabelecidas com a clientela assistida, ou seja, da possibilidade de contribuir para oportunizar o crescimento dessas pessoas, de promover a sua saúde.














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